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quarta-feira, 13 de abril de 2011

GOSTO PELA LEITURA

O gosto pela leitura
Como começar a gostar de ler, eis a questão
Uma das teorias a respeito do assunto diz que é preciso encontrar um livro arrebatador e, a partir daí, nasce o prazer

Motoko Rich, do The New York Times


Talvez a história recente mais fantástica não seja Harry Potter e as Relíquias da Morte, mas The Uncommon Reader (O Leitor Incomum), romance de Alan Bennet, que imagina a rainha da Inglaterra tornando-se repentinamente, no fim da vida, uma leitora voraz. Numa época em que os livros parecem empreender uma árdua batalha contra as forças do MySpace, do You Tube e do American Idol, a idéia de uma pessoa conseguir, tão rapidamente, passar da indiferença literária para uma paixão devoradora é, infelizmente, algo improvável.
O problema foi ressaltado no fim do ano passado, quando o National Endowment for the Arts divulgou a solene notícia (novidade pra quem?) de que os americanos - especialmente adolescentes e jovens adultos - estão lendo menos a título de diversão. Ao mesmo tempo, entre aqueles que lêem menos, a quantidade de leitura também está diminuindo. E entrevistados em cargos de chefia revelaram que seus subordinados são cada vez mais fracos quando se trata de citar uma leitura básica ou da compreensão de um assunto.
O que fazer diante dessas constatações? Perdemos toda a esperança ou as pessoas um dia ainda voltarão a ser atraídas para a paisagem literária? E, exatamente, o que leva alguém a amar tanto um livro que decide querer mais e mais leituras?
Não existe uma resposta empírica. Se houvesse, mais livros seriam vendidos tão bem quanto a série de Harry Potter ou o Código Da Vinci. A gestação de um leitor fiel e comprometido é, em alguns aspectos, um processo mágico, formado em parte pelas forças externas, mas também por uma centelha dentro da imaginação. Ter pais que lêem muito ajuda, mas não garante. Professores e livreiros devotados também podem influir. Mas, apesar da proliferação de grupos de leitura e blogs literários, no final das contas ler é um ato pessoal. "Por que as pessoas lêem e o que elas preferem são questões bem pessoais", diz Sara Nelson, editora-chefe da revista especializada Publishers Weekly.
Em alguns casos, pedir para alguém explicar por que lê é um convite a uma refinada racionalização. Junot Diaz, autor de The Brief Wondrous Life of Oscar Wao (A breve e assombrosa vida de Oscar Wao), recorda vividamente ter tropeçado numa biblioteca ambulante logo após sua família emigrar da Republica Dominicana para Nova Jersey, quando tinha 6 anos de idade. Nessa biblioteca, ele folheou um livro ilustrado de Richard Scarry, uma coleção de pinturas de regiões selvagens americanas no século 19 e uma versão do Sign of Four, de Arthur Conan Doyle. O que havia nessas três obras que o tornaram, a partir daí, uma pessoa louca por livros? "Consigo relatar o mito criador do meu arrebatamento pela leitura, mas explicar é um mistério", diz Diaz.
Sim, é tudo misterioso e pessoal, mas o fato é que há algumas pistas do que pode transformar uma pessoa num leitor duradouro. The Uncommon Reader propõe a tese de que o livro certo no momento certo pode despertar um hábito para toda a vida. Para a rainha da história, esse livro é Pursuit of Love (Em busca de amor), de Nancy Mitford.
Esse é um ideal romântico que subsiste entre muitos amantes de livros. "É como uma droga, mas num sentido positivo", diz Daniel Goldin, gerente geral da Harry W. Schwartz Bookshops, em Milwaukee. "Se você tem o livro que faz a pessoa se apaixonar pela leitura, ela vai querer outro depois."
Esse tipo de experiência ocorre, com mais freqüência, na infância. Em The Child that Books Built (A criança que os livros criam), Francis Spufford, jornalista e crítico britânico, escreve como as marcas negras entre cada uma das capas de O Hobbit foram ficando cada vez mais fáceis de entender e libertaram um dragão de dentro dele, tornando-o um "viciado" em ler.
E o que faz com que um livro se torne a causa primordial da leitura contínua? Para alguns, é a descoberta de que o personagem da história é como você, pensa como você ou, ao menos, compartilha o mesmo sentimento. Quando recebeu o National Book Award (Prêmio Nacional do Livro) de Literatura Juvenil, por The Absolutely True Diary of a Part-Time Indian (O Diário absolutamente verdadeiro de um indígena temporário), o escritor Sherman Alexie agradeceu a Ezra Jack Keats , autor de The Snowy Day (O dia de neve), um livro clássico de histórias ilustradas para crianças . "Foi a primeira vez que folheei um livro e vi um personagem marrom, negro, bege - um personagem parecido comigo, física e espiritualmente, em toda a sua magnífica solidão e esplêndido isolamento", disse Alexie, indígena da tribo Spokane, que cresceu numa reserva.
Em uma entrevista, Alexie disse que era um leitor regular mas que, depois de The Snowy Day, transformou-se num verdadeiro maníaco por livros. "Acho que é a idade em que você encontra aquele livro com o qual se identifica plenamente que irá determinar o resto da sua vida de leitura", disse ele. "Quanto mais jovem você for, mais probabilidade terá de se tornar um leitor sério. O que é preciso, de fato, é a pessoa se achar num livro”.
Naturalmente, isso não vale para a leitura realizada em busca de informação, esclarecimento ou conselho prático. Para outras pessoas, nem é tanto essa identificação, porém abraçar o Outro é o que as atrai para a leitura. "É a emoção de tentar descobrir aquele mundo desconhecido", disse Azar Nafisi, autora de Lendo Lolita em Teerã, livro de memórias que se tornou best seller, sobre um grupo de leitura que ela dirigiu no Irã.
Às vezes o mundo da leitura abre-se com um livro de fácil assimilação. Bennet diz que escolheu The Pursuit of Love como o preferido da rainha da sua ficção porque foi o primeiro romance adulto que ele próprio leu por prazer. Para ele, como para a personagem do seu romance, The Pursuit of Love foi um salto para uma literatura mais vigorosa. "Existem todos os tipos de entradas que nos levam à leitura, mesmo se temos em mãos o que, à primeira vista, parece ser um lixo", declara.
(Tradução de Terezinha Martino)