domingo, 24 de outubro de 2010

FIGURAS DE LINGUAGEM

Figuras de linguagem
As figuras constituem um recurso especial de construção, valorizando e embelezando o texto. Há questões de provas, inclusive em concursos públicos, que cobram, direta ou indiretamente, o emprego adequado da linguagem figurada. Vejamos as mais importantes, que você não pode desconhecer. Elas não serão, aqui, agrupadas de acordo com sua natureza: de palavras, de pensamento e de sintaxe. Não há importância nessa distinção, para interpretarmos um texto.
1) Comparação ou simile
Consiste, como o próprio nome indica, em comparar dois seres, fazendo uso de conectivos apropriados.
Ex.: Esse liquido é azedo como limão.
A jovem estava branca qual uma vela.
2) Metáfora
Tipo de comparação em que não aparecem o conectivo nem o elemento comum aos seres comparados.
Ex.: “Minha vida era um palco iluminado...” (Minha vida era alegre, bonita etc. como um palco iluminado.)
Tuas mãos são de veludo. (Entenda-se: mãos macias como o veludo)
“A vida, manso lago azul...” (Júlio Salusse)
(Neste exemplo, nem o verbo aparece, mas é clara a idéia da comparação: a vida é suave, calma como um manso lago azul.)
3) Metonímia
Troca de uma palavra por outra, havendo entre elas uma relação real, concreta, objetiva. Há vários tipos de metonímia.
Ex.: Sempre li Érico Veríssimo, (o autor pela obra)
Ele nunca teve o seu próprio teto. (a parte pelo todo)
Cuidemos da infância. (o abstrato pelo concreto: infância / crianças)
Comerei mais um prato. (o continente pelo conteúdo)
Ganho a vida com meu suor. (o efeito pela causa)
4) Hipérbole
Consiste em exagerar as coisas, extrapolando a realidade.
Ex.: Tenho milhares de coisas para fazer.
Estava quase estourando de tanto rir.
Vive inundado de lágrimas.
5) Eufemismo
É a suavização de uma idéia desagradável. Chamado de linguagem diplomática.
Ex.: Minha avozinha descansou. (morreu)
Ele tem aquela doença. (câncer)
Você não foi feliz com suas palavras. (foi estúpido, grosseiro)
6) Prosopopéia ou personificação
Consiste em se atribuir a um ser inanimado ou a um animal ações próprias dos seres humanos.
Ex. A areia chorava por causa do calor.
As flores sorriam para ela.
7) Pleonasmo
Repetição enfática de um termo ou de uma idéia.
Ex.: O pátio, ninguém pensou em lavá-lo. (lo = O pátio)
Vi o acidente com olhos bem atentos. (Ver só pode ser com os olhos.)
8) Anacoluto
É a quebra da estruturação sintática, de que resulta ficar um termo sem função sintática no período. É parecido com um dos tipos de pleonasmo.
Ex.: O jovem, alguém precisa falar com ele.
Observe que o termo O jovem pode ser retirado do texto. Ele não se encaixa sintaticamente no período. Caso disséssemos Com o jovem, teríamos um pleonasmo: com o jovem = com ele.
9) Antítese
Emprego de palavras ou expressões de sentido oposto.
Ex.: Era cedo para alguns e tarde para outros.
“Não és bom, nem és mau: és triste e humano.” (Olavo Bilac)
10) Sinestesia
Consiste numa fusão de sentidos.
Ex.: Despertou-me um som colorido. (audição e visão)
Era uma beleza fria. (visão e tato)
11) Catacrese
É a extensão de sentido que sofrem determinadas palavras na falta ou desconhecimento do termo apropriado. Essa extensão ocorre com base na analogia. Por isso, ela é uma variação da metáfora.
Ex.: Leito do rio. Dente de alho. Barriga da perna. Céu da boca.
Curiosas são as catacreses constituídas por verbos: embarcar num trem, enterrar uma agulha no dedo etc. Embarcar é entrar no barco, não no trem; enterrar é entrar na terra, não no dedo.
12) Hipálage
Adjetivação de um termo em vez de outro.
Ex.: O nado branco dos cisnes o fascinou, (brancos são os cisnes)
Acompanhava o vôo negro dos urubus, (negros são os urubus)
13) Quiasmo
Ao mesmo tempo repetição e inversão de termos, podendo haver algumas alterações.
Ex.: “No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho “(C. D. Andrade)
“Vinhas fatigada e triste, e triste e fatigado eu vinha.” (Olavo Bilac)
14) Silepse
Concordância anormal feita com a ideia que se faz do termo e não com o próprio termo. Pode ser:
a) de gênero
Ex.: V Sa é bondoso.
A concordância normal seria bondosa, já que V. Sa é do gênero feminino. Fez-se a concordância com a ideia que se possui, ou seja, trata-se de um homem.
b) de número
Ex.: O grupo chegou apressado e conversavam em voz alta.
O segundo verbo do período deveria concordar com grupo.
Mas a ideia de plural contida no coletivo leva o falante a botar o verbo no plural: conversavam. Tal concordância anormal não deve ser feita com o primeiro verbo.
c) de pessoa.
Ex.: Os brasileiros somos otimistas.
Em princípio, dir-se-ia são, pois o sujeito é de terceira pessoa do plural. Mas, por estar incluído entre os brasileiros, é possível colocar o verbo na primeira pessoa: somos.
15) Perífrase
Emprego de várias palavras no lugar de poucas ou de uma só.
Ex.: “Se lá no assento etéreo onde subiste...” (Camões)
assento etéreo = céu.
Morei na Veneza brasileira.
Veneza brasileira = Recife
Não provoque o rei dos animais.
rei dos animais = leão.
Obs.: Questões que envolvem perífrase pedem, freqüentemente, conhecimento independente do texto.
16) Assíndeto
Ausência de conectivo. É um tipo especial de elipse, que é a omissão de qualquer termo.
Ex.: Entrei, peguei o livro, fui para a rede.
Ligando as duas últimas orações, deveria aparecer a conjunção e.
17) Polissíndeto
Repetição da conjunção, geralmente e.
Ex.: “Trejeita, e canta, e ri nervosamente.” (Padre Antônio Tomás)
“E treme, e cresce, e brilha, e afia o ouvido, e escuta.” (Olavo Bilac)
18) Zeugma
Omissão de um termo, geralmente verbo, empregado anteriormente. Variação da elipse.
Ex.: “A moral legisla para o homem; o direito, para o cidadão.” (Tomás Ribeiro)
“São estas as tradições das nossas linhagens; estes os exemplos de nossos avós.” (Herculano)
Obs.:Na primeira frase, está subentendida a forma verbal legisla; na segunda, são.
19) Apóstrofe
Chamamento, invocação de alguém ou algo, presente ou ausente. Corresponde ao vocativo da análise sintática.
Ex.: “Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?!” (Castro Alves)
“Erguei-vos, menestréis, das púrpuras do leito!” (Guerra Junqueiro)
20) Ironia
Consiste em dizer-se o contrário do que se quer. É figura muito importante para a interpretação de textos.
Ex.: “Moça linda bem tratada, três séculos de família, burra como uma porta, um amor.” (Mário de Andrade)
Observe que, após chamar a moça de burra, o poeta encerra a estrofe com um aparente elogio: um amor.
21) Hipérbato
É a inversão da ordem dos termos na oração ou das orações no período.
Ex.: “Aberta em par estava a porta.” (Almeida Garrett)
“Essas que ao vento vêm
Belas chuvas de junho!” (Joaquim Cardozo)
22) Anástrofe
Variante do hipérbato. Consiste em se inverter a ordem natural existente entre o termo determinado (principal) e o determinante (acessório).
Ex.: Sentimos do vento a carícia.
Determinado: a carícia
Determinante: do vento
Obs.: Nem sempre é simples a distinção entre hipérbato e anástrofe. Há certa discordância entre os especialistas do assunto.
23) Onomatopéia
Palavra que imita sons da natureza.
Ex.: O ribombar dos canhões nos assustava.
Não agüentava mais aquele tique-taque insistente.
“Não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano.” (Machado de Assis)
24) Aliteração
Repetição de fonemas consonantais.
Ex.: Nem toda tarefa é tão tranqüila.
“Ruem por terra as emperradas portas.” (Bocage)
“Os teus grilhões estrídulos estalam.” (Raimundo Correia)
Obs.: Nos dois últimos exemplos, as aliterações procuram reproduzir, sons naturais, constituindo-se também em onomatopéias.
25) Enálage
Troca de tempos verbais.
Ex.: Se você viesse, ganhava minha vida mais entusiasmo,
Agora que murcharam teus loureiros
Fora doce em teu seio amar de novo.” (Álvares de Azevedo)
Obs.: Na primeira frase, ganhava está no lugar de ganharia; na segunda, fora substitui seria.