sexta-feira, 25 de setembro de 2009

ONDE - PRONOME RELATIVO

INFORMAÇÕES EXTRAÍDAS DO SITE:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/colunas/noutraspalavras/ult2675u2.shtml

24/12/2004
Uso do "onde" requer muita atenção
THAÍS NICOLETI DE CAMARGO
Colunista da Folha Online

O que dá ensejo à coluna de hoje é uma curiosa frase publicada nesta semana em um jornal paulista. A idéia era noticiar a possibilidade de um astronauta brasileiro viajar em uma espaçonave russa apesar de receber treinamento nos Estados Unidos.

O texto do jornalista dizia o seguinte: "O astronauta brasileiro Marcos Cesar Pontes pode embarcar para a Estação Espacial Internacional em uma espaçonave russa. Pontes deveria viajar com os americanos, onde treina desde 98, mas problemas nos dois países tornaram isso pouco provável." A estranheza da construção acima advém do emprego equivocado da palavra "onde" (no caso, um pronome relativo), que deveria retomar uma expressão de lugar, mas não o faz.

Na verdade, o "onde" remete a uma idéia de lugar que não está explicitada no período, ou seja, a de que Pontes treina nos EUA. A melhor correção, entretanto, seria a substituição desse termo por "com quem" --afinal, Pontes treina com os americanos. A palavra "quem" (pronome relativo) deve ser precedida pela preposição que completa o sentido do verbo "treinar", pois o pronome "quem" retoma o antecedente "americanos". Assim, Pontes deveria viajar com os americanos, com quem (ou com os quais) treina.

É relativamente freqüente o uso incorreto do "onde". Vejamos outro fragmento, também extraído de jornal. Agora o assunto é a "sogra": "Versos, anedotas, provérbios, pilhérias, em todas as línguas do mundo, tornam a sogra objeto de ridículo feroz (...). Era o mesmo entre gregos e romanos e será difícil encontrar um povo onde a sogra não seja tema de perversidade e raiva constantes". Mais uma vez, o problema está no fato de o termo "onde" retomar uma palavra que não indica lugar, no caso "povo".

Pode o redator ter feito uma associação entre "povo" e "país". Mais adequado seria, nesse caso, empregar uma construção como: "(...) encontrar povos entre os quais a sogra não seja tema de perversidade e raiva constantes".

Uma parte da confusão nasce da crença na equivalência entre "onde" e "em que". É fato que "onde" pode ser substituído por "em que" ("país onde nasci" ou "país em que nasci", por exemplo), mas o inverso nem sempre é possível. Um exemplo desse equívoco está no trecho seguinte: "Só uma humanidade onde reine a civilização do amor poderá gozar da paz autêntica e duradoura".

Nesse trecho, caberia "em que" ou "na qual", mas não "onde", já que "humanidade" não é um lugar. O ideal, nesse caso, seria "uma humanidade em que reine a civilização do amor".

Caso semelhante a esse aparece no seguinte trecho: "O padrão de mulher mais velha do que o homem é mais encontrado entre as uniões consensuais, onde representa 25% do total. Nos casamentos civis e religiosos, essa porcentagem cai para 16%". A expressão "uniões consensuais" poderia ser retomada por meio das construções "em que" ou "nas quais". Assim: "O padrão de mulher mais velha do que o homem é mais encontrado entre as uniões consensuais, nas quais (em que) representa 25% do total. Nos casamentos civis e religiosos, essa porcentagem cai para 16%".

Por vezes, o problema pode estar no uso da preposição que antecede o "onde". Quando equivale a "em que", o "onde" não requer anteposição de preposição, mas, quando o verbo ou o nome exigir outra preposição, esta deverá anteceder o "onde". A ausência da preposição é o defeito da construção a seguir: "O 'aleph', o ponto mágico onde conflui todo o universo, é uma dessas extraordinárias máquinas mínimas". Ora, o universo conflui para um determinado ponto.

Portanto "o 'aleph' [é] o ponto mágico para onde conflui todo o universo". Melhor ainda seria usar "para o qual", expressão que valoriza a especificidade do local (o ponto). Assim: "O 'aleph' [é] o ponto mágico para o qual conflui todo o universo".

Quando a preposição que antecede o "onde" é o "a", ocorre a combinação de "a" com "onde", que resulta na forma "aonde". Assim, perguntamos "Onde está você?" (pois você está em algum lugar), mas "Aonde você vai?" (pois você vai a algum lugar).

Entendido que "onde" sempre retoma uma idéia de lugar, o estudante escreve em sua redação: "A faculdade onde freqüentava ficava em Guarulhos". E agora? Apesar de "a faculdade" ser um lugar, o emprego do "onde" está incorreto. Isso porque o substantivo "faculdade" é, semanticamente, denotador de lugar, mas o pronome que o retoma na segunda oração do período ("onde") não exerce a função sintática de adjunto adverbial de lugar.

Trocando isso em miúdos, o verbo "freqüentar" requer um objeto direto (afinal, freqüentamos algo), não um adjunto adverbial de lugar (afinal, ninguém freqüenta em que). A construção correta, então, é a seguinte: "A faculdade que freqüentava ficava em Guarulhos", e o pronome relativo "que" exerce na oração a que pertence a função de objeto direto. Na condição de pronome relativo, o "onde" sempre exerce a função de adjunto adverbial de lugar.

////////////////////////////////////////////////



POR PASQUALE CIPRO NETO:

Onde só é pronome relativo quando equivale a em que. Quando se diz "Onde você
nasceu?", não é possível pensar em pronome relativo; afinal, o período é simples, e você
sabe que o pronome relativo só aparece no período composto, para substituir numa
oração subordinada um termo da oração principal. No caso, onde é advérbio
interrogativo.
Quando pronome relativo, onde só pode ser usado na indicação de lugar, atuando
sintaticamente como adjunto adverbial de lugar:
Quero uma cidade tranqüila, onde possa passar alguns dias em paz.
A cidade onde nasci fica no Vale do Paraíba.
- nota da ledora: propaganda da camionete Pajero, em paisagem semelhante a Chapada
dos Guimarães, região de grande beleza rústica, com o seguinte texto:- Ideal num país
onde os prefeitos iniciam estradas e os sucessores param no meio.
- fim da nota.
Onde substitui o termo um país e desempenha na oração subordinada adjetiva a função
sintática de adjunto adverbial de lugar.
Onde substitui o termo um país e desempenha na oração subordinada adjetiva a função
sintatica de adjunto adverbial de lugar.
Há uma forte tendência, na língua portuguesa atual, em usar onde como relativo
universal, um verdadeiro cola-tudo. Esse uso curiosamente tende a ocorrer quando um
falante de desempenho lingüistico pouco eficiente procura "falar dífícil". Surgem então
frases como:
Vai ser um jogo muito díficil, muito disputado, onde nós vamos tentar conseguir mais
um resultado positivo.
Vivemos uma época muito difícil, onde a violência gratuita é dominante.
Não me alimentei bem, dormi mal, onde hoje não consegui uma boa marca.
A economia está em franco processo de recessão, os salários estão congelados, onde a
classe média não pode mais comprar como antes.
Na língua culta, escrita ou falada, onde deve ser limitado aos casos em que há indicação
de lugar físico, espacial. Quando não houver essa indicação, deve-se preferir em que, no
qual (e suas flexões na qual, nos quais, nas quais) e, nos casos da idéia de causa / efeito
ou de conclusão, portanto:
Vivemos uma época muito difícil, em que (na qual) a violência gratuita impera.
A economia está em franco processo de recessão, os salários estão congelados, portanto
(por isso) a classe média não pode mais comprar como antes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário