terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

CONCORDÂNCIA IDEOLÓGICA

FONTE: Gramática do professor Pasquale Cipro Neto



Você pôde ler neste capítulo que muitas vezes os mecanismos de CONCORDÂNCIA
podem ser contaminados pela significação de palavras e expressões. Essa contaminação
às vezes faz a CONCORDÂNCIA formal e lógica ser substituida pela
CONCORDÂNCIA ideológica e psicológica. Em outras palavras: o falante às vezes é
levado a colocar um verbo ou adjetivo no plural ou no singular não porque o sujeito ou
substantivo tenha essa forma, mas sim porque significa isso. As vezes, a alteração diz
respeito à pessoa gramatical ou ao gênero gramatical.
A CONCORDÂNCIA ideológica é chamada de silepse. Ocorrem silepses de número,
gênero e pessoa.
A silepse de número ocorre particularmente quando o sujeito é um coletivo e o verbo
passa a concordar no plural:
O público chegou muito cedo. Como o sol era forte e o calor, intenso, começaram a
pedir aos bombeiros que jogassem água.
Você notou que o sujeito da primeira oração é público, singular com idéia de plural.
A forma verbal chegou está no singular. No período seguinte, o verbo passou para o
plural (começaram). Isso se explica pelo distanciamento e pela conseqüente perda da
força da forma da palavra público. Passa a prevalecer o seu significado, plural (as
pessoas, ou algo equivalente).


Outra forma de silepse de número ocorre quando se utiliza o chamado "plural de
modéstia", em que a pessoa que fala ou escreve refere-se a si mesma como nós.
Os adjetivos referentes ao falante surgem no singular:
Nossas músicas fazem muito sucesso lá, o que nos deixa satisfeito e comovido.
A silepse de gênero ocorre quando se troca o masculino pelo feminino ou vice-versa:
Vossa Excelência está frustrado?
Sua Santidade ficou impressionado com a acolhida.
Alguém está com saudades e quer que você vá vê-Ia.
São Paulo continua caótica, bárbara e violenta.
A silepse de pessoa é bastante comum quando quem fala ou escreve se inclui num
sujeito de terceira pessoa:
Os brasileiros decentes queremos que acabem a impunidade e os privilégios.
Todos sabemos quais as soluções de que o Brasil precisa.
Na língua coloquial, é comum a silepse de pessoa com a forma "a gente":
"A gente somos inútil."
No padrão culto, essa construção é inaceitável.

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