terça-feira, 29 de setembro de 2009

ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS

Extraído da gramática de Pasquale Cipro Neto.


- nota da ledora: propaganda do jornal O Estadão, texto: - Sua última redação que fez
sucesso foi "Minhas férias na Fazenda? " - ao lado, a foto de uma vaca e a seguinte
frase, atribuída a ela: - É melhor voce começar a ler o Estadão.
- fim da nota.
Uma oração adjetiva nada mais é do que um adjetivo em forma de oração. Assim como
é possível dizer "redação bem sucedida", em que o substantivo redação é caracterizado
pelo adjetivo bem-sucedida, é possível dizer também "redação que fez sucesso", em que
a oração "que fez sucesso" exerce exatamente o mesmo papel do adjetivo bem-sucedida,
ou seja, caracteriza o substantivo redação.

1 ESTRUTURA DAS ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS

Como você já viu, as orações subordinadas adjetivas têm esse nome porque equivalem a
um adjetivo. Em termos sintáticos, essas orações exercem a função que normalmente
cabe a um adjetivo, a de adjunto adnominal. Observe:
Não suporto gente mentirosa.
Não suporto gente que mente.
Comparando esses períodos, é fácil perceber que a oração "que mente" e a palavra
mentirosa são morfossintaticamente equivalentes: têm papel morfológico de adjetivo e
função sintática de adjunto adnominal do substantivo gente, que é núcleo do objeto
direto da forma verbal suporto. "Que mente" e, portanto, uma oração subordinada
adjetiva.
A conexão entre oração subordinada adjetiva e o termo da oração principal que ela
modifica é feita, no caso, pelo pronome relativo que. Vale relembrar um recurso
didático largamente empregado - e já estudado neste livro, no capítulo destinado aos
pronomes - para reconhecer o pronome relativo que: ele sempre pode ser substituído por
o/a qual, os/as quais. "Gente que mente" equivale a "gente a qual mente"; "aluno
estudioso" equivale a "aluno o qual estuda".
Convém lembrar também que é fundamental diferenciar o relativo que da conjunção
integrante que, que introduz uma oração subordinada substantiva. Observe:
"Diga às pessoas que me procurarem que estarei aqui depois do almoço".
O primeiro que é pronome relativo (que = as quais). A oração "que me procurarem",
que caracteriza o substantivo pessoas, é adjetiva. O segundo que, que não pode ser
substituido por nenhum outro termo, é conjunção integrante. A oração "que estarei aqui
depois do almoço"é subordinada substantiva objetiva direta, já que funciona como
complemento direto da forma verbal diga.
Além de conectar (ou relacionar, daí o nome relativo) duas orações, o pronome relativo
desempenha uma função sintática na oração subordinada: ocupa o papel que seria
exercido pelo termo que o antecede. Observe:
É preciso comer alimentos. Esses alimentos não devem fazer mal à saúde. É preciso
comer alimentos que não façam mal à saúde.
No primeiro caso, há dois períodos simples. No primeiro período, o substantivo
alimentos exerce a função sintática de objeto direto de comer; no segundo, é núcleo do
sujeito da locução verbal devem fazer. Quando os dois períodos simples são unidos num
período composto, o substantivo alimentos deixa de ser repetido: em seu lugar,
exercendo a função de sujeito da forma verbal façam, surge o pronome relativo que.
Note que, para os dois períodos se unirem num período composto, foi preciso alterar o
modo verbal da segunda oração.
Não é só o pronome relativo “que” que desempenha função sintática. Aos demais relativos
(quem, o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, onde, quanto, quando,
como, ) também se aplica o mesmo
raciocínio. Ainda neste capítulo, você verá as funções sintáticas desses relativos.
Quando são introduzidas por um pronome relativo e apresentam verbo no modo
indicativo ou subjuntivo, as orações subordinadas adjetivas são chamadas
desenvolvidas. Além delas, existem as orações subordinadas adjetivas reduzidas, que
não são introduzidas por pronome relativo (podem ser introduzidas por preposição) e
apresentam o verbo numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou particípio).
Observe:


Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
No primeiro período, há uma oração subordinada adjetiva desenvolvida, já que é
introduzida pelo pronome relativo que e apresenta verbo conjugado no pretérito perfeito
do indicativo. No segundo, há uma oração subordinada adjetiva reduzida de infinitivo:
não há pronome relativo e seu verbo está no infinitivo.

ORAÇÕES SUBORDINADAS ADJETIVAS E A PONTUAÇÃO
Você já viu que existem dois tipos de oração subordinadas adjetivas: as restritivas e as
explicativas. Como agem de forma diferente na caracterização do termo a que se ligam,
essas duas orações devem ser claramente diferenciadas na língua escrita. As orações
restritivas ligam-se intimamente ao termo cujo sentido particularizam, portanto não
podem ser separadas desse termo por vírgulas. As orações explicativas agem como uma
espécie de detalhe ou comentário adicional ao termo a que se ligam; portanto devem ser
isoladas por vírgulas. Convém lembrar que o papel restritivo ou explicativo da oração
depende muitas vezes do significado que se quer dar ao que se afirma:

O país cuja distribuição de renda é indecente não tem perspectiva de civilizar-se.
O país, cuja distribuição de renda é indecente, não tem perspectiva de civilizar-se.
Na primeira frase, a oração adjetiva restritiva é empregada para delimitar o sentido da
palavra país. A falta de perspectiva de civilizar-se aplica-se apenas àqueles países que
têm renda concentrada e mal distribuída. Na segunda, a oração adjetiva explicativa torna
explícito um dado já aceito como inerente a um país que já tinha sido citado.
- nota da ledora: quadrinho de desenho: em um barco, médico diz pra pescador, com
caniço: - olha o paciente que tem minhoca na cabeça não veio !
- fim da nota.
Para azar do pescador, faltou justamente o paciente mais precioso Este é caracterizado
pelo psicanalista numa oração adjetiva restritiva ("que tem minhoca na cabeça")
É muito comum o emprego de uma vírgula depois de orações subordinadas adjetivas
restritivas muito longas, principalmente quando o verbo dessa oração subordinada e o
verbo da oração principal são contíguos, ou seja, estão lado a lado:

Muitas das estradas com que generais megalomaníacos, tecnocratas alucinados e
empreiteiros inescrupulosos se locupletaram, estão abandonadas.
Observe que a vírgula que aparece entre locupletaram e estão separa o sujeito do
predicado. Seu emprego, consagrado como recurso de clareza, na verdade não condiz
com o papel básico que cabe à pontuação, o de organizador das relações lógicas e dos
significados. Estruturalmente, essa vírgula é inútil.

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